Oi gente!
Hoje vou me abrir um pouco com vocês e falar um pouco mais sobre minha batalha com a ansiedade, e também recomendar um app que tem me ajudado muito a ser mais feliz!
Eu já contei para vocês em 2016 que eu sempre fui uma pessoa muito perfeccionista e que sempre me coloquei muita pressão, o que me levou a ser extremamente ansiosa. Desde criança eu quis ser aquela pessoa tida como ideal pela sociedade, estudando muito, me esforçando sempre para conseguir o melhor resultado possível. Isso soa ótimo, mas quando levado ao extremo, pode te deixar uma permanente pilha de nervos, como aconteceu comigo.
Recentemente compartilhei um post no meu Facebook que eu quero deixar aqui também, por mais que seja algo pessoal, porque eu acredito que tenhamos que falar mais sobre esse assunto. O texto apareceu na página Quebrando o Tabu, e o que eu escrevi segue abaixo.
“Essa mentalidade de que só temos valor se estamos nos forçando além dos nossos limites é a base dos problemas sérios de ansiedade que tenho enfrentado há tempos.
Quando você cresce sendo a aluna nerd que todos prezam porque você está o tempo todo se esforçando, você entra num ciclo de reafirmação de que você só presta quando se mata. Ninguém percebe que isso está acontecendo, nem você, afinal estão todos teoricamente te elogiando, com a melhor das intenções. Mas aí você deixa de levar a vida de jeito saudável e passa a ser aquela pessoa que se esforça exageradamente para tudo, o tempo todo. E então você se vê chegando aos 30 anos absolutamente exausta, e o pior: se culpando por não ter mais a energia que antes tinha para se matar de trabalhar/estudar, se achando o pior dos seres humanos porque se todo mundo sempre deu valor ao seu esforço, o que vai acontecer agora que você não aguenta mais se esforçar tanto?
Por mais que racionalmente eu saiba que ser esforçada não é a única qualidade que as pessoas vêm em mim, e que eu ainda seria amada se me esforçasse menos, a verdade é que no meu âmago eu acredito que eu só tenho valor enquanto me matar de trabalhar/estudar. Se a Nicole deixar de se dedicar 200%, quem será a Nicole? Existe, claro, uma infinidade de graus de dedicação, mas eu sempre fui louvada por me dedicar ao máximo, e isso me fez aprender que qualquer coisa abaixo do máximo era pouco. Que nota 8 era bom, mas 10 era melhor, e de 7 pra baixo, nem pensar. Se a nota foi baixa (como aconteceu, pro meu desespero, várias vezes na faculdade), ou se eu não consegui um emprego, tinha que ser porque algo não deu certo, mas nunca porque eu não tinha me esforçado ao máximo.
E o fato de essa mentalidade ter me levado tão longe em termos profissionais no fundo só atrapalha, porque faz com que eu acredite que se eu tirar o pé do acelerador, eu não conseguirei mais conquistar nada. Mas não é verdade. A verdade é que ter vivido até agora desse jeito pode até ter contribuído para minhas conquistas, mas também fez com que ano passado meu corpo tenha gritado que não aguenta mais, e o fato de que eu vivo uma pilha de nervos o tempo todo e eventualmente tenho ataques de pânico faz com que eu não só seja infeliz, mas também – vejam a ironia – que eu não seja tão produtiva assim.
Com muita terapia e meditação tenho começado a aprender que esse não é o caminho que eu quero para mim, e que ter paz de espírito é mais importante que uma nota boa, um diploma, um emprego renomado. Mas ainda tenho muito chão a percorrer até que eu mesma me aceite como alguém que tem valor mesmo que eu não sacrifique minha saúde física e mental em prol do trabalho.
É importante que a gente tenha ciência das consequências que essa mentalidade pode ter nas pessoas, porque somos todos nós que criamos esse ambiente de ultra-competitividade quando louvamos aquele que se mata e achamos que aquele que se cuida e leva a vida com mais tranquilidade necessariamente é folgado e fracassado.”
O mundo não está dividido entre aqueles que se esforçam que nem condenados e aqueles que são vagais e esperam que tudo caia no colo deles. Entre esses dois extremos há um espectro de graus de esforço, e assim como ser alguém que não corre nunca atrás de nada é ruim, também é ruim ser alguém que se mata o tempo todo até ter literalmente um problema de saúde. Quero dizer, cada um pode escolher o que quer para a sua vida, mas é verdade que a sociedade tende a idealizar pessoas viciadas em trabalho, que são tão ambiciosas que nem se dão o direito de curtir uma vitória porque imediatamente já focam no próximo objetivo. E eu decidi que não quero mais ser assim, porque, francamente, eu não aguento mais.
Como mencionei no texto, eu ter ignorado meus sentimentos minha vida toda porque eu nunca me dei tempo de questionar o que estava acontecendo dentro de mim fez com que toda essa tensão se acumulasse até meu corpo dizer chega, e começar a ter ataques de pânico. As pessoas infelizmente estão acostumadas a tratar doenças mentais como algo supérfluo, sem importância, tanto que é comum falarmos da boca para fora que estamos em pânico. Eu não estou falando desse tipo, eu estou falando de pânico MESMO, de seu coração e sua respiração acelerarem a ponto de você não conseguir respirar, de você tremer, suar frio e sentir ao mesmo tempo que vai desmaiar e vomitar. A questão é que seu cérebro não sabe distinguir entre um perigo real e um perigo imaginário: se você passa o tempo todo achando que uma desgraça está para acontecer a qualquer momento, seu cérebro acredita e te coloca em modo de luta/fuga, o que biologicamente e psicologicamente é super estressante para o seu corpo.
Mas foi um sinal muito necessário. Tive, na marra, que tirar o pé do acelerador, parar de cegamente olhar para o próximo objetivo e, pela primeira vez, olhar para dentro. Voltei a fazer terapia, que é algo que qualquer um com condições deveria fazer, porque terapia nada mais é do que algo que te ajuda a aprender sobre si mesmo, a analisar o que há de bom e descobrir como mudar aquilo que não te permite ser feliz. Minha terapeuta, baseada em São Paulo (eu faço sessões por Skype) é excelente e se vocês estiverem procurando alguém, me avisem e eu passo o contato dela.
Ao mesmo tempo que voltei à terapia, eu comecei, pela primeira vez, a fazer meditação. E é aí que entra o Calm, um app de mindfulness. Esse é um tipo de meditação em que você treina estar atento ao momento presente. Quantas vezes nós não estamos tão focados em coisas do futuro ou do passado, que nem prestamos atenção no que está acontecendo agora? Aí chega o fim do ano e a gente tem aquela sensação de “nossa, como o ano passou tão rápido?” porque nós não prestamos atenção no momento presente! A gente se deixa levar por nossos pensamentos e emoções e somos jogados de um lado para o outro por eles, como numa montanha-russa, como se não tivéssemos controle sobre nós mesmos. Mas nós temos. É só aprendermos a prestar atenção.
A prática de mindfulness é simples: você tenta, por um certo período de tempo (10 minutinhos são suficientes!), prestar atenção no presente. É muito mais difícil do que parece. Para ajudar a “ancorar” você no agora, você tenta prestar atenção na sua respiração, a focar toda a sua atenção nela. Ao contrário do que muita gente pensa, meditação não é um treino em que você fica ativamente tentando não pensar em nada: um dos princípios é aprender a observar, sem se deixar levar, os pensamentos e emoções que surgem naturalmente, e deixá-los ir embora, voltando a focar na respiração. Esse exercício pode parecer sem sentido, mas ele faz com que você se torne mais ciente (mindful) dos seus pensamentos e emoções, e isso te coloca no controle. Isso te permite afastar aquilo que não lhe serve, e ter a escolha de focar no aqui, agora. É totalmente empoderador e eu recomendo para todo mundo!
Meditação é um exercício, e como todo exercício, é difícil no começo mas se torna mais fácil com a prática. E há alguns apps que ensinam você e te ajudam a praticar. Infelizmente, os melhores que eu conheço são em inglês, mas existem alguns em português também. Os mais famosos em inglês são o Headspace e o Calm, sendo que o último é o que eu gosto. Ambos estão disponíveis para iPhone e Android.
O Calm tem um monte de funções excelentes: todo dia tem uma meditação de 10 minutos com um tema diferente (daily calm), eles têm um monte de cursos de meditações com sessões de 10 minutos por dia, você pode escolher entre vários sons e músicas relaxantes para colocar ao fundo, e eles têm até histórias para dormir para adultos, para quem tem dificuldade em pegar no sono! Outra coisa muito útil são as meditações de emergência (emergency calm), para quando você precisa se acalmar rapidamente, e a “bolha de respiração” (breath bubble), que ajuda você a respirar num ritmo lento e diminuir sua agitação.

Telas iniciais do app
Além disso, você ganha acesso à comunidade Daily Calm Community no Facebook, um espaço super agradável em que as pessoas compartilham suas histórias e todos estão dispostos a ajudar, dar dicas e oferecer palavras de conforto.

Sons de fundo e breathe bubble
O app em si é gratuito, mas para ter acesso a todas as funções é preciso pagar uma anuidade que para mim aparece como £50. Isso dá em torno de R$20 por mês. Vinte reais por mês para me tornar uma pessoa mais calma, em paz comigo mesma, capaz de curtir os momentos presentes? Para mim vale super a pena, e eu recomendo 100%! Eles estão o tempo todo trazendo novos recursos e literalmente uma meditação nova por dia, então acho mais do que justo pagar por esse serviço.

Alguns exemplos de meditações temáticas disponíveis
Caso vocês queiram experimentar, o app permite acesso ao curso inicial, 7 Days of Calm, gratuitamente, e vocês podem ver se curtem a ideia ou não. O passo seguinte, para quem quer continuar nessa jornada, é fazer o 21 Days of Calm, que ensina os princípios de mindfulness mais a fundo, e aí você pode continuar seguindo os daily calm ou escolher a meditação que quiser (na verdade desde o começo você pode fazer o que quiser, não tem ordem obrigatória, só recomendada rs).
E para aqueles que curtem ter um registro do seu progresso, o app mostra automaticamente os dias em que você meditou, qual foi seu máximo de dias seguidos, quantas sessões você fez até o momento e quantas horas de meditação elas representam no total.

Registro do seu perfil e histórias para dormir
Posso dizer com certeza que esse app tem me ajudado muito, de uma maneira que apenas terapia não seria capaz de fazer. Para quem não se dá muito bem com tecnologia, ou não sabe inglês, há várias aulas presenciais de mindfulness por aí, é só se informar. :)
Espero que minha história tenha inspirado vocês a se dar tempo para avaliar como vocês estão sentindo, e se vocês estão seguindo num caminho que vocês realmente desejam no momento. A gente sempre pode mudar de direção, desde que a gente não esteja correndo tão desesperadamente para um ponto em particular que a gente nem consegue olhar para os lados e confirmar se aquela direção é mesmo a que desejamos. E sendo você uma pessoa que lida com problemas de saúde mental ou não, eu te convido a experimentar algumas sessões de meditação. Espero que elas mudem a sua vida para melhor, como têm mudado a minha!
Até a próxima!